Nunca diga nunca, águia férrea.

 A águia férrea que se enterrou dentro do meu peito, por longos anos, finalmente pode ressurgir. Lembro-me quando escolhi o nome para o blog, era apenas uma menina. Uma menina cheia de sonhos, mas que estava ferida. A cada golpe brusco que sofri, engoli a dor, chorei baixinho e continuei meus caminhos. Ouvi pela primeira vez a canção Iron Eagle, da banda King Kobra. Sua letra dizia "nunca diga nunca, águia férrea.". Agarrei-me nessas palavras durante anos, bradando força, mas implodindo.

Um incêndio instaurou-se dentro do meu corpo, tornando a camada da minha pele cada vez mais fina, frágil, mas ainda sim, bradando força. Escolhi meus caminhos, sem saber que estava dançando com a morte, sorri incondicionalmente ao encontro do meu algoz. Ali eu morri, minha carne se esvaiu ao pó.

Sobrevivi anos e anos absorta dentro do meu mundo imaginário. O mundo que eu havia criado para entorpecer a dor enquanto a minha alma era castigada. Oras, mas castigada por quê? Porque eu mereço! Era a única coisa que eu dizia a mim mesma, quando as palavras malditas eram proferidas para diminuir e testar a minha força. Talvez tenha sido uma forma de eu me enganar para justificar as agressões, as chibatadas imaginárias. Cada palavra suja era um golpe.

Por onde passava, deixava meus rastros de sangue, mas as pessoas só brigavam comigo por sujar o chão. Quanto mais eu tentei limpar, mais estraguei tudo. Me culpei por manchar o chão e não consegui fazer o mínimo, que era limpar. Assim se instaurou a desordem, o ódio, o desafeto.

Explodi feio, cada pedacinho do que tinha restado do meu corpo, terminou de sangrar ali mesmo. A partir do momento que a explosão aconteceu, não pude mais cessá-la. Transformei-me no que eu mais odiava, a personificação da perdição, da imundice e da agonia.

Eu não gostava do que eu via em mim, mas só conseguia ser daquele jeito. Pois foi a dor que me ensinou a flertar com o caos. E a águia férrea, onde estava? Onde eu estive esse tempo todo quando precisei de mim?

Escondida, acuada e com medo. Estava presa entre os escombros, completamente ferida, dentro de uma casca em decomposição. Meu estágio de putrefação aconteceu de trás para frente. Assim que me encontrei ferida, bati no meu rosto e disse: _ Levante-se! Ninguém pode te tirar daí a não ser você mesma. _ Mesmo cambaleando, ainda entorpecida, dolorida e quebrada eu me levantei. Dia após dia senti a carne preenchendo o meu corpo, os bichos que se saciavam da minha podridão, foram desaparecendo, caindo pelo chão, enquanto eu renascia das cinzas.

Do pó eu vim, do pó voltarei. Do pó eu simplesmente ressurgi. E para cada um que se saciou com a minha queda, dou um largo sorriso. Essa é a única vingança que eu posso oferecer.

Nunca diga nunca, águia férrea.

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